Refúgio. Porto seguro. Abrigo. Lugar para brincar, se divertir e se acolher. No meu caso, e acredito que no caso de muitas pessoas também, a casa dos avós foi muito mais do que isso. A casa do meu avô está localizada num terreno grande, onde ele construiu uma boa casa na frente, com um extenso quintal, cabendo muitos carros e ainda sobrando espaço. Além de mais duas casas no fundo. De origem rural e com o intuito de ajudar os outros a não ter mais que passar por tudo que ele passou nos tempos difíceis da vida no campo, ele mudou para cidade grande (assim como muitos outros) e foi adquirindo alguns imóveis para poder ajudar toda a família, como seus 6 filhos e netos.

Desde que me lembro, as casas sempre foram ocupadas. Ora tinha algum filho morando, ou algum outro conhecido que meu avô fazia questão de ajudar. A primeira lembrança de que tenho, é de uma senhora com dois filhos já adultos morando na casa do meio, enquanto morávamos na casa do fundo.

Havia todo um acolhimento bacana na casa dos meus avós, pois afinal, éramos os primeiros netos (eu, meu irmão e meu primo) que habitamos o local. Desbravamos e conhecíamos todo o quintal, fazendo muitas brincadeiras e muita “arte” por ali. E a sensação de estar na casa dos avós sempre fui muito prazerosa e protetora, ainda mais, por estar morando nos fundos e ainda ter a casa grande da frente como se fosse uma extensão da nossa casa, onde poderíamos comer, brincar, dormir, assistir TV, tomar café da tarde e muitas outras coisas legais para se fazer.

Guardo com muito carinho todo esse tempo legal que tive da minha infância junto aos meus avós, tios e primos (que vinham chegando gradativamente). Foi uma infância fantástica apesar de todas as dificuldades e problemas que enfrentávamos. Foi onde tudo se iniciou como a escola, amigos, contatos, o que chamamos hoje em dia de networking.

Aos poucos as coisas iam se modificando, com a saída de alguns, para a entrada de outros. Algum tempo depois, a senhora com seus dois filhos se mudaram, assim como nós também saímos do fundo da casa para uma outra cidade, enquanto eram tomadas por outros filhos dos meus avós. Meu vô queria ter a família por perto e reunida mantendo o contato e a união de todos. Uma atitude muito nobre de uma pessoa que só desejava o bem de todos da família e de fora também.

Confesso que não havia notado tamanha generosidade nos meus avós, pois de pequeno, eles não davam muita moleza para gente, nos dando alguns puxões de orelhas quando fazíamos bagunça. Mas que depois de anos mais tarde é que fui começando a perceber o quanto meus avós gostavam de ajudar aos outros. Sempre muito religiosos, eles ajudavam na igreja, ajudavam na vizinhança, ajudavam no trabalho, as pessoas da rua que passavam pedindo no portão, a família, em geral com todos que necessitavam. E por ter tido esse exemplo em casa, me admirava muito ao saber de histórias de pais severos que colocavam os filhos em rédeas curtas. Não que fomos domados em rédeas curtas, mas que tínhamos uma certa situação mais amena de outras que vi de pais expulsando filhos de casa e coisas do tipo, por exemplo.

Sim, ouvi histórias de pais que eram rigorosos com seus filhos (especialmente com as meninas, que ainda havia um certo machismo na época), brigando, exigindo, impondo regras bem severas quer eram castigadas com forte repreensão caso fossem quebradas. Não tivemos esse tipo de repreensão em casa. Foi um pouco mais leve. Mas ao ter contato com pessoas de que haviam passado por isso, me intrigava muito, e ficava sem entender muito bem o porque desse comportamento dos pais, sendo que os meus pais, tios e avós, eram muito mais flexíveis com relação a isso. Ainda um pouco imaturo para entender que cada pessoa tem um comportamento diferente devido às suas crenças, criação e demais aspectos como o ambiente em que vive.

Atualmente, retornei para a casa dos meus avós, devido a necessidade de uma mudança de apartamento, e que me fez relembrar toda aquela infância prazerosa vivida com a presença deles e demais membros da família. Me sinto muito privilegiado por fazer parte de uma família onde existem pessoas engajadas em ajudar uns aos outros. De querer se reunir frequentemente. De fazer festas e reuniões familiares num simples café da tarde com pipoca, bolo e café aos finais de semana. Coisas típicas de casa de avós realmente.

Nesse meu retorno, passei a ter mais contato com minha família e a entender melhor como cada um deles se comporta e como são suas atitudes e hábitos perante a vida. Ouvimos reclamações e queixas de alguns a respeito de outros, e vice-versa, mas nada tão anormal que nenhuma outra família não tenha entre seus integrantes.

O pequeno espaço de tempo que fiquei (ainda estou lá por mais uns dias, talvez), aprendi muita coisa boa, onde chorei ao relembrar momentos, me surpreendi positiva e negativamente também com certas atitudes de algumas pessoas, mas nada que desabone qualquer um deles no que diz respeito ao caráter de cada um, e descobri coisas novas (que não se tratam de novas para eles, mas que para mim se tornaram novidade) que alguns deles fazem no seu dia a dia. Faz parte do crescimento e aprendizado da gente. Nos faz pensar em quem a gente é realmente, ao identificar algumas características que com certeza, devem ter vindo daquele ambiente e daquelas pessoas que se tornaram exemplos para nós.

Meus avós não são mais os mesmos. Meus tios, primos e agregados, também não são mais os mesmos. E nem eu sou mais o mesmo de que era a algum tempo atrás. Tudo muda. Tudo se transforma. Tudo se modifica. E que bom que é assim. Pois com a mudança, vem novas oportunidades. Novas possibilidades de melhorar. Coisas que nos fazem pensar em quem a gente é. Coisas que vão nos ajudando a nos conhecer melhor quem a gente realmente é. Ao notar todo o ambiente em que a gente cresceu, sob um olhar mais maduro, a gente passa a perceber tudo aquilo que nos transformamos com as influências desse ambiente. Sem contar todos os outros ambientes dos quais fizemos parte. Mas penso que retornar ao local pelo qual passamos, assim como a água que volta ao rio, ela pode até passar pelo mesmo lugar, mas que esse mesmo lugar já deixou de ser o mesmo lugar, mas sim um lugar novo e modificado que teve o impacto e a “mão” dos que passaram por ali, deixando o seu legado.

Sou muito grato por tudo isso. Sou muito grato pelas passagens que tive ali. Tanto na infância, quanto agora mesmo. sou grato por ter aprendido com as pessoas que ali estão. O clima e o ambiente que ali se encontra, sempre foi muito leve para mim. Um lugar de refúgio. Um local do qual eu gostava de estar para recarregar as energias. Um lugar que para mim representa sim um pedaço do paraíso. Assim como aqueles locais que nos fazem sentirmos melhores. Ali fui grande. Ali fui humano. Naquele lugar me percebi homem. Desse lugar surgiu a pessoa que eu sou hoje. E desse lugar quero levar para sempre em meu coração, o lugar que me transformou, que me acolheu e que me modificou para me tornar uma pessoa melhor. Gratidão. Obrigado! Muito obrigado!

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