A todo momento estamos sendo bombardeados por comentários de pessoas que se referem a outras pessoas que fazem ou fizeram alguma coisa para elas. Vamos falar para nossas esposas que foram “eles” que falaram. Vamos dizer para nossos pais que foram “eles” que fizeram. Vão dizer para você que “eles” é que agem assim. A toda hora vamos nos referir aos outros como “eles” que criaram algum estímulo na gente.
Estamos sempre nos referindo aos outros como aqueles que fizeram como uma terceira pessoa pela qual estamos falando e que não sabem os nossos motivos para falar deles dessa ou daquela maneira. “Eles” não sabem o que foi que a gente disse sobre eles que fez a outra pessoa ter uma imaginação referente aquilo que recebeu de informação. É apenas um lado da história. Falta o lado da história deles.
Temos a nossa versão da história. Criamos nós mesmos as nossas histórias e colocamos o que a gente bem entende de informações nela. Aumentamos alguma coisa aqui e outra ali. Fazemos comentários mais encorpados. E maximizamos os pontos negativos quando é para nos favorecer, ou ao contrário se também nos favorecer. Da mesma forma acontece com “eles” ao contar suas próprias histórias.
Qual criança não correu para a mãe e disse que o coleguinha tinha dado um enorme tapa na cabeça dele (a) que fez um “galo” tão grande que intensificou com um choro ainda mais expressivo, sendo que o amiguinho apenas passou a mão na cabeça da outra criança? A maioria de nós acaba sempre puxando a brasa para a nossa sardinha. Que foi a gente mesmo que fomos injustiçados, entrando no papel de vítimas das situações em geral.
“Eles” estão lá na deles, comentando com outros a sua versão da história falando de você que também é representado como “ele” que fez isso ou aquilo. E a segunda pessoa que ouvem a história faz a interpretação dos fatos de acordo com o que recebeu de informação, e depois dá o seu “veredito”.
“Eles” são bons ou são ruins? “Eles” são os mocinhos ou os vilões da história? “Eles” estão o tempo todo nos atormentando. “Eles” entram em nossas cabeças e tomam o nosso imaginário e se instalam lá de modo que todas as vezes que formos fazer algo relacionado, iremos lembrar deles nos falando algo em nossa mente. São os geradores de crenças, os grandes vilões que criamos na cabeça e assim permanecem por muito tempo lá dentro.
Esse cenário fica durante muito tempo, até que possamos enfrentar em nossas mentes todos “eles” que nos fizeram algo. Vamos ter uma batalha épica dentro de nossa cabeça para poder tirá-los de lá. A luta entre o bem e o mal que estamos sempre combatendo. “Eles” na maioria dos casos, nem sabem que você está lutando contra esses malfeitores da sua cabeça. Uma luta que mais cedo ou mais tarde vamos ter que enfrentar se quisermos ser livres.
Talvez daí venha a importância do perdão. De realizar o perdão. De combater o fogo com pouca água aos poucos mas constante para poder vencer. Vai ser o perdão que irá eliminar “eles” da sua mente para poder se sentir livre outra vez. Vai ser o perdão que irá fazer com que você esqueça “eles” e os substitua por outros, até se fortalecer ao ponto de não deixar mais que isso aconteça novamente.
São as vozes internas que estão lá nos dizendo para fazer isso ou aquilo. São essas vozes que nos travam, nos bloqueiam sem deixar que façamos aquilo que desejamos. E tudo isso sendo criado em nossas mentes de forma abstrata, mas que geram grandes danos emocionais.
Em nossa mente já temos uma batalha constante com nosso “eu” interior e agora também com “eles” para poder provar alguma coisa, para poder vencer obstáculos, para poder se livrar de bloqueios que fizemos ao colocar essas pessoas dentro de nossa cabeça nos dizendo o que devemos ou não fazer de nossas vidas.
Parece uma luta inglória que na maioria das vezes perdemos até nos tornarmos verdadeiramente fortes o suficiente para poder vencer essas pessoas. “Eles” estão lá a todo o momento. Estão lá em nossos sonhos. Estão lá em momentos de fraqueza. Eles estão lá a quase todo momento que os invocamos nos dizendo que não iremos conseguir.
Nós deixamos que “eles” entrassem em nossas cabeças. Nós permitimos que ocupassem um lugar em nossa mente, onde a gente mesmo vai dar mais poder a eles, todas as vezes que estivermos mais fracos e debilitados. Nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Na hora que enfrentamos um desafio. Na hora que fracassar. Em todas as horas que não conseguimos realizar alguma tarefa, “eles” estarão lá te dizendo que você não seria realmente capaz de fazer aquilo.
Acontece que nós também somos os “outros” que estamos nas mentes daqueles que discriminamos, que rejeitamos, ou que criticamos, muitas vezes sem nos dar conta do que fizemos. Entramos na cabeça do outro e nem fazemos ideia de que essas pessoas pensam muito na gente. Talvez uma pequena e sutil vibração de energia poderemos sentir, ao nos deparar com aqueles que nos colocaram lá em suas mentes, por conta de algo que fizemos e estamos sendo os vilões da história das vidas dessas pessoas.
Muitas vezes nem por maldade, mas pelo simples fato de ter dito algo que não agradou muito a pessoa, já foi motivo suficiente para o pagamento do “ingresso” de entrada para esse “parque de diversões mental” do outro.
Tanto de um lado como de outro, estamos passando por esses acontecimentos. Nós também somos “eles” para os outros, assim como os outros são “eles” para nós.
Não precisamos nos preocupar tanto com isso, se agirmos de uma maneira a motivar as outras pessoas a serem melhores, a incentivá-los a buscarem seus ideais, ou de fazer com que o outro se sinta bem com nossas presenças, opiniões ou da segurança que passamos para essas pessoas, por estar simplesmente por perto. Mesmo que não estejamos sendo os vilões para as vidas das pessoas, pode acontecer de ser os bonzinhos, mas ainda assim estar na mente das pessoas como alguém que não deve ser decepcionado, como uma inspiração para os outros.
Que possamos servir de inspiração para os outros realmente, sendo vilões ou mocinhos, desde que as pessoas se sintam incumbidas de agir em função de seus ideais e propósito de vida, mas sem se cobrar tanto a ponto de acreditarem que não façam nada direito. Também podemos “pegar leve” e ser mais maleáveis com nós mesmos. Que possamos ser a sementinha que irá fazer brotar o mais forte dos seres humanos ao ultrapassar seus limites e gerar o bem para todos. E que nós também sejamos os vencedores dessas batalhas contra “eles” e nós mesmos em nossas mentes.