Há uma fábula muito famosa que certa vez ouvi e que é muito bonita a respeito de três árvores que estavam a conversar dizendo uma para a outra o que gostariam de ser. Não me recordo claramente dos detalhes, mas a intenção é de trazer o sentido que essa mensagem nos faz refletir.
Uma das árvores dizia querer se transformar numa arca para poder guardar tesouros com muito ouro, muitas jóias preciosas e várias coisas valiosas. Uma outra árvore gostaria de se tornar um navio enorme para navegar no mar levando reis e as pessoas a viajar pelos mares. E a terceira árvore gostaria de se tornar a árvore mais alta do mundo, ficando no topo, crescendo cada vez mais, sendo vista por todos de qualquer lugar e sendo lembrada por todos ao olhar para o céu e pensarem em Deus.
Com o passar dos anos, cada uma daquelas árvores seguiram um rumo totalmente diferente dos que desejam. Ao serem cortadas e “imaginando” que se tornariam aquilo que gostariam de ser, cada árvore teve uma surpresa diferente. A primeira árvore que deseja se tornar um baú para guardar grandes riquezas, se transfomou num cocho para animais sendo coberta com serragem e preenchida com comida.
A segunda árvore que desejava se tornar um navio enorme carregando reis, se transfomou num simples e pequeno barco de pesca ancorado em um lago. Já a terceira árvore ficou desapontada por ter sido cortada e levada para um galpão de madeiras, onde não ficaria no topo da montanha apontando para o céu, como desejava.
Acontece que o destino “prega” certas peças, que acabam nos levando para cumprir o nosso propósito de uma maneira diferente do que imaginávamos, e muitas vezes sem que a gente se dê conta disso. Até imaginamos que não fomos atentidos e estamos realizando os nossos propósitos sem saber, e até reclamando por estar vivenciando algo de que não era o que gostariam de estar fazendo.
Na sequência da história das árvores, a primeira que virou um cocho para animais, acabou tendo uma outra finalidade, onde uma jovem mulher que deu a luz o seu filho, sendo colocado naquele cocho que foi utilizado como uma manjedoura para acolher seu filho recém-nascido.
Anos mais tarde aquele barquinho que foi construído a partir da segunda árvore, foi responsável por levar aquele mesmo bebê, agora crescido, para se tornar num “pescador de homens”. Aquele barquinho levava os homens que seriam escolhidos para fazerem parte da obra de algo que seria grandioso.
Mas foi numa quinta feira, algum tempo mais tarde, que a terceira árvore foi retirada de um armazém de madeira esquecido, para ser levada por um Homem, que mais tarde teria as mãos e os pés cravados sob esse mesmo tronco da árvore que carregava.
Sem perceber a primeira árvore, acolheu o maior de todos os tesouros do mundo, ao servir de “berço” para aquele recém-nascido que mudaria toda a humanidade. Seu desejo de se tornar uma arca onde se colocaria jóias, pedras preciosas ou coisas valiosas, acabou sendo atendido ao ser preenchida com o maior de todos os tesouros.
A outra árvore não sabia que levava aquela criança que se tornou Homem, e que presenciou o que Ele fez ao acalmar um tormenta e fazer um de seus discípulos andar sob as águas. Esta árvore não virou um navio navegando pelos mares, mas conduziu o rei dos reis.
Com a intenção de manter toda a humanidade olhando para os céus e ver “Deus”, a terceira árvore cumpriu seu propósito permanecendo no alto, onde todos poderiam ver o Homem sendo crucificado, perdoando os pecados de todos e nos ensinando o amor e a servir, fazendo com que até hoje olhamos para o alto para ver onde aquela árvore desejava estar nos fazendo lembrar de Deus.
Cada uma daquelas árvores cumpriu com seu propósito realizando seus desejos ao fazer tudo, que a princípio, não parecia ser o seu destino, e que estavam numa situação que por alguns instantes não faziam muito sentindo com seus verdadeiros propósitos, até perceberem o seu real significado.
Essa mensagem nos transmite a reflexão a respeito de nosso propósito aqui na Terra. De procurar saber qual o significado da vida e de nossa jornada. A história traz a percepção de como tudo é lindo, integrado e como tudo faz parte dessa natureza fazendo tudo acontecer de uma maneira que se cumpra os seus desejos.
Assim, dessa mesma maneira que pensamos nas árvores que cumpriram com suas funções tendo os seus desejos atendidos, também vemos isso acontecer a todo instantate com as pessoas. As árvores queriam ser reconhecidas e contribuir de alguma forma com o mundo, pois elas sentiram a presença de Jesus Cristo ao ter colaborado com a entrega que Ele nos fez.
Os ensinamentos que Jesus nos trouxe desde o seu nascimento, ao ser aconchegado naquele cocho de madeira, fazendo aquela árvore ter a sua importância na história, e depois ser levado e transportado no pequeno barco onde Ele ensinou seus discípulos a ter fé e acreditar, deixando a segunda árvore ser reconhecida pelo seu propósito, e finalmente na terceira parte que a árvore foi carregada pelo Senhor, “vivenciando” todo o sofrimento de perto sem entender o que aquilo significava direito, mas que também exerceu seu papel na história ao estar junto a Jesus. Toda essa história nos trouxe o ensinamento de servir, amar, ser humilde, ter fé e acreditar que tudo que você desejar será realizado com as suas ações.
Sabemos que a fábula fala a respeito de um ser vivo irracional e sem consciência (pelo menos até onde sabemos), que não teria sonhos ou desejos, e que ainda sim não teriam vida ao se tornar os objetos utilizados para contar a história, assim como todas as outras coisas, como suas vestes, o cálice e todas os objetos que Jesus utilizou em sua passagem. No “mundo” dos objetos, eles seriam considerados os objetos sagrados, assim como os animais, os lugares, os discipulos e as pessoas que estiveram com Ele.
Da mesma forma pensamos no burrinho que conduzia José, Maria e Jesus em seu ventre para que pudessem dar a luz ao salvador. Aquele burrinho enfrentou frio, tempestades, dificuldades junto deles até encontarem um local seguro para o nascimento Dele. Estiveram em cavernas se protegendo do frio da noite do deserto, onde receberam a famosa túnica de “Og Mandino” em sua história do maior vendedor do mundo, fazendo entrar outro objeto importante na história.
O burrinho esteve o tempo todo ao lado deles enfrentando o processo, acompanhando e também cumprindo o seu papel na história. Mas o que se passava na cabeça do burrinho? O que ele imaginava ou sentia o que estava acontecendo? Será que tinha consciência disso? Apesar de irracionais, os animais tem muita sensibilidade, basta ver qualquer animal ao lado de um bebê recém-nascido para se ter uma ideia disso. Poderia aparecer qualquer outro animal querendo atacar todos que ali estavam, que o burrinho faria a sua parte para proteger seus donos.
Pode parecer uma coisa insignificante ou sem importância falar a respeito do burrinho, ou dos objetos, ou mesmo das pessoas que estavam junto de Jesus naquele tempo, mas tudo isso fez parte da história. E por mais que pareçam coisas que não fariam a diferença, é curioso imaginar tudo que se passou naquele momento tão especial da vinda do Cristo. É um simples burrinho, são pessoas humildes que estiveram com Ele, são objetos tão singelos e sem magnitude ou imponência alguma, que fizeram parte disso tudo.
Isso vem para mostrar que são as coisas simples que tem a sua função e exercem seu papel com mérito, fazendo nos atentar a mensagem, sem desvalorizar todas as outras coisas que fizeram parte dessa história. Isso mostra que as coisas simples tem a sua importância nas nossas vidas e que devemos valorizar tudo aquilo que é importante. Não precisamos de nada tão deslumbrante para podermos viver bem, mas valorizar e ser fiel naquilo que a gente tem.
Com a chegada do Natal, ressignificamos muitas coisas em nossas vidas. É um momento especial onde muitos se sentem mais propensos ao perdão, a solidariedade e a união para podermos superar os desafios. Esse é o momento de estarmos com nossas famílias e refletir a respeito de tudo que se passou corrigindo as injustiças, reconhecendo os erros, valorizando os esforços, abraçando o seu próximo e para ficar perto das pessoas que amamos, pensando Naquele que humildemente veio até nós para nos salvar na condição de homem, enfrentando desde o início, todas as dificuldades que uma pessoa pode vir a sofrer. Mas que veio com o intuito de trazer amor, ensinar o amor, servir e compartilhar o pão com seus irmãos numa simples tigela, ou de dividir o vinho num cálice singelo, e de usar roupas já gastas pela ação do tempo e utilização, ou de montar nos burrinhos ou barcos que os levariam a sua glória.
Nesse Natal, em todos os outros e a todo tempo, que possamos valorizar as pequenas coisas que nos ajudam a viver a nossa vida, que possamos ser gratos pelo pouco que temos, sem deixar de exercer a nossa fé de que Ele nos conforta de tudo. E que possamos cumprir com seus ensinamentos para servir às pessoas.
O burrinho, os objetos, os lugares e as pessoas podem ter feito parte da história onde muitos foram esquecidos, outros foram exaltados e lembrados por suas atitudes, mas que todos tiveram o seu propósito de atender a Cristo. O comportamento do burrinho que levou Jesus para muitos lugares, transmite uma calma ao pensar nele pisando lentamente no caminho, mas com a firmeza e segurança de estar levando uma “carga” muito preciosa. O papel do burrinho foi fundamental nessa história, mesmo sem saber ao certo o que estava fazendo, mas que com certeza sentiu toda aquela paz que Jesus deveria transmitir a todos que estavam ao seu redor. Até mesmo para as árvores que tinham um “sonho”.
O sentido do Natal, a fábula das árvores, a história do burrinho e todas as coisas que nos conduzem a essa sensação de estarmos tomados pelo “espírito do Natal”, que nos leva a pensar no nascimento de nosso salvador, tudo isso soa como um sentimento de querer ajudar e contribuir com o mundo por sentir que um menino nasceu e se tornou o Homem para perdoar os nossos pecados e nos ensinar muitas coisas boas, gera uma sensibilidade nas pessoas que deveria se propagar ao longo dos dias e não somente no Natal. Com a chegada do fim de ano, as festas, as férias, a união das famílias e amigos, traduzem bem a sensação de solidariedade para com os demais, mas que devemos exercer o ano todo, e a vida toda, como Ele nos ensinou. Um feliz natal e que esse e os próximos sejam inspiração para que esse sentimento se propague para o ano todo, de natal a natal.