E quando tudo acabou, só ficou o silêncio. Ah o silêncio! Tudo se acalmou. Tudo se aquetou. Tudo teve fim quando o barulho cessou. É isso que vai acontecer quando tudo acabar? O barulho vai terminar, o escuro irá tomar conta, o vazio vai preencher o local, ou será exatamente o oposto? Não sabemos ao certo. Nem temos ideia do que irá acontecer amanhã, quanto mais daqui a milhões ou bilhões de anos.
O silêncio precede muita coisa, mas também vem depois de muita coisa que ocorre por aí. Foi o silêncio que se deu quando caiu a noite. Foi o silêncio que veio quando as águas do mar se acalmaram. O silêncio veio em seguida quando você adormeceu. Foi o silêncio que sucedeu a tempestade. Na verdade foi o silêncio que veio quando os olhos fecharam. Foi o silêncio que adentrou ao mundo quando o Homem morreu. Tapamos os ouvidos e não se ouviu mais nada. Apenas o vento soprava no deserto levando as menores partículas de areia sob a cruz.
É triste pensar no fato de que tudo se acabou muito rápido. Que tudo aconteceu de forma precoce. Que poderia ter sido feito mais. Que não fosse a nossa ignorância em não entender, tudo teria sido diferente. Mas estava escrito que seria como foi. Será mesmo? Se fosse assim, será que haveria o perdão? Se fosse assim, será que existiria a ascensão? Se fosse assim, será que teria o silêncio? Não sabemos.
O silêncio geralmente acompanha a solidão dos corações que não tem ninguém para compartilhar seus momentos. As pessoas que estão sozinhas, ficam em casa quietas sem fazer barulhos, ou falar com alguém apenas escutando o barulho de fora da rua ou de seus vizinhos festeiros, ou ainda de uma obra no terreno ao lado. No silêncio de seu coração, existe o desejo e a intenção de estar com alguém para poder conversar e compartilhar momentos. As vezes tudo que a gente precisa é de um ombro amigo para poder confessar nossas falhas e se confortar em ser ouvido.
O silêncio não se trata de uma placa pendurada na parede de um hospital solicitado para não importunar os enfermos. O silêncio não se trata de ficar quieto e calado com um turbilhão de “barulhos” dentro de sua mente. O silêncio acalma o espírito. Com o silêncio ficamos mais concentrados nas atividades. Ficamos mais focados. Temos mais atenção sem distrações ao redor, se tornando mais fácil de se realizar algumas tarefas importantes. Pelo menos para alguns. Algumas pessoas preferem o barulho para poder se concentrar melhor (para os que estão totalmente focados). Muitos tem mais facilidade quando tudo está barulhento. Cada um tem um jeito que melhor se adequa para si.
Mas o silêncio traz muitos benefícios como mencionado no parágrafo anterior, além de outros pontos como de tomar decisões mais acertivas. Isso não quer dizer que para todos funcione dessa maneira, pois como disse, existem pessoas que funcionam melhor com alguns barulhos.
Estive a pouco presenciando uma cena de silêncio. Um lugar grande e vazio, que aos poucos foi sendo tomado por pessoas a dizer um último “adeus” para seu ente querido que partiu deixando saudades. O momento mais difícil de nossas vidas, que é quando algum amigou ou familiar vai embora. O silêncio estava presente. Aos poucos foi sendo rompido, mas que voltou a silenciar com a partida.
Independente disso tudo, o silêncio vai chegar a todos, cedo ou tarde em qualquer momento de nossas vidas. E aí vamos ter que lidar com isso. Ficarmos quietos, em silêncio e pensar numa alternativa para solucionar o problema. Parece que quando estamos em silêncio, tudo fica mais claro, a concentração é mais presente, o turbilhão de pensamentos diminui, o coração bate mais calmamente e a respiração fica menos ofegante. Como se houvesse um poder exercendo uma força para acalmar a alma seguindo num ritmo suave. Os efeitos de uma música harmôniosa de notas claras e suaves trazendo paz aos corações.
Assim como o silêncio proporciona essa sensação, o barulho, agitação, nervosismo e batidas fortes e desarmoniosas, pode trazer uma aceleração do coração batendo no ritmo da música e fazendo o sangue pulsar muito mais intenso como se nos preparasse para o ataque ou reação imediata a algum estímulo externo.
Ambas sensações são válidas para cada tipo de situação. Existem momentos que cabe a inserção de uma calmaria, mas também há momentos de agir com uma certa firmeza para realizar determinadas tarefas. Cada um sabe onde cada situação se encaixa melhor. E tem horas que desejamos o silêncio, mas também temos os momentos de explosão que elevam a adrenalina a níveis de tensão para adequar o corpo a ocasião.
Um exemplo disso é quando estamos dirigindo um carro com determinado tipo de música. Ela pode influenciar em como a gente dirigi dependendo do nosso estado de espírito. Geralmente uma música mais agitada ou pesada pode deixar a pessoa mais agressiva no trânsito. Da mesma forma uma música mais calma pode te deixar mais tranquilo ao volante. E isso pode funcionar tanto se você estiver agitado e se acalmar com uma música mais lenta, quanto pode também se exaltar se estiver calmo e escutar uma música com fortes batidas. Ou pode ser que nem aconteça isso em razão de se estar bem consigo mesmo, não deixando nenhum outro estímulo externo te afetar.
Tivemos algo parecido de se chegar um quase silêncio total no período da pandemia, onde todas as pessoas tinham que ficar em casa e só podiam sair para comprar alimentos, produtos e serviços essenciais. As ruas ficavam vazias. Os lugares fechados. Todos com máscaras. A maioria com medo. Foi um período bem difícil de se enfrentar com pessoas morrendo e toda a preocupação com nossos familiares e amigos.
Assim como a pandêmia, outros momentos também trazem consigo o silêncio, como o final de uma guerra, onde são levados os corpos dos combatentes, ou o velório daqueles que partiram dessa vida, com a quebra do silêncio pelo choro das pessoas que sentiram pela perda, ou ainda aquele minuto de silêncio pela morte sempre prematura dos nossos amigos e familiares queridos.
Para as pessoas que são surdas por conta de alguma complicação ou doença da qual nasceram com a falta desse sentido, ou que tenham perdido a audição no decorrer de sua vida, o silêncio está sempre com elas. Mesmo desejando poder ouvir, escutar os barulhos da natureza, ou das pessoas conversando, ou até mesmo de uma sintonia agradável, podem deixar de sentir essa sensação durante sua passagem na terra, mas que com certeza serão recompensados por isso, como também para a falta de qualquer outro sentido que a pessoa não tenha em vida. O fato de ser surdo ou de não ter algum sentido não altera em nada o fato de a pessoa poder viver uma vida normal, pois afinal, com a perda de algum sentido, a pessoa passar a utilizar outros e ficar ainda mais sensível do que as pessoas que tem todos os sentidos e nem se lembra disso. Há uma certa luz e atração diferente nesse tipo de pessoa, que não podemos explicar.
Como a escuridão é determinada pela ausência de luz, o silêncio também é determinado pela ausência de som, mas que não significa um silêncio absoluto, pois podemos estar com essa ausência de barulhos, mas ainda sim podemos escutar nosso coração batendo, ou a brisa soprando suavemente, ou ainda a respiração calma e tranquila. Mesmo na tranquilidade e calmaria total, ou ainda, diante da escuridão com o silêncio presente, como se estive no espaço, há uma sensação de paz interior que nos transmite essa energia.
Vai haver um dia em que tudo irá se silenciar. Vai chegar o momento em que não escutaremos mais nada e tudo vai cessar. Sem barulhos. Sem dor. Sem luz. Sem cobranças. Sem problemas. Sem culpas. Sem pecados. Sem mais nada da parte física, onde a matéria irá se desintegrar, mas que iremos renascer na luz, no som, na paz e no amor. Só haverá paz, tranquilidade e amor preenchendo todas as lacunas de tudo aquilo que houve de escasso em sua vida terrena. E que agora estará com com você em paz. Na paz!