Ao acordar pela manhã e pela segunda vez seguida, eu escutei um passarinho cantar na porta da minha casa. Será um sinal, ou só uma coincidência com a música de Bob Marley “Three Little Birds”? Não sei. Alguma coisa ali que queira me dizer algo, que não tenho muita visão disso para poder interpretar de uma maneira mais clara, mas sei lá. Vamos avaliar.

Ao mesmo tempo que o passarinho canta na porta da minha casa, ouço passos de uma caminhada calma e tranquila, com os pés bem firmados ao chão da minha avó ao me trazer os ovos que ela pegou para mim vendidos pelo carro que passa na porta da casa dela.

Uma senhorinha muito simpática que tem muita história pra contar, assim como meu avô, mas que ela prefere não fazer, deixando essa parte para meu avô mesmo fazer.

A maioria das crianças que tiveram o privilégio de ficar algum tempo com seus avós, são sortudos realmente por ter vivido um tempo com aquela pessoa que te quer muito bem, e que não te recrimina tanto quanto seus próprios pais. O lance de casa de vó é uma coisa muito legal, pois traz muitas boas lembranças para todos que tiveram essa passagem ao ter toda a liberdade de poder brincar e aprontar muito. Sem dizer a respeito de todas as refeições realizadas ali como os almoços com a família, os jantares, o café da tarde e as guloseimas que elas preparavam.

Para mim, o café da tarde era algo que sempre me agradou muito. Particularmente na casa da minha avó, todos se juntavam à mesa e comiam um pãozinho, ou um bolo, com café, leite e outras coisas gostosas que faziam.

Não via o café da tarde sendo muito usual em outros lares perto de onde eu morava, mesmo na casa de minha mãe que não era muito comum, talvez isso que tornava esse momento mais especial ainda para mim. Era um momento de quebrar a rotina, ter um relax, uma pausa para poder se alimentar e voltar a brincar na rua, depois de um café quentinho e com o “tanque cheio” novamente, para poder gastar toda a energia acumulada.

A dona Terezinha, minha avó como é carinhosamente chamada (pois não é esse o seu nome verdadeiro), tinha muita amizade com todos e ajudava muitas pessoas que tinham necessidade ao costurar algumas roupas, ou doar alimentos para a igreja ou mesmo para alguns que passavam na rua pedindo algo para comer algo no portão de casa, fornecendo algum alimento.

Ela sempre esteve ao lado do meu avô ao criar seus seis filhos, vindos de uma vida humilde no campo da zona rural de Minas Gerais, e enfrentar a cidade grande, onde meu avô conseguiu emprego e se levantou com muita honestidade e lealdade perante seus superiores no emprego que ficou durante anos, até a sua aposentadoria.

Certa vez, fui conversar com minha vó que estava na cozinha e coloquei a mão na cintura dela para falar, mas ela foi para o lado esquerdo, enquanto eu fui para o lado direito, e ao mesmo tempo que mudava o lado para me dar atenção, eu já tinha ido para o lado oposto, ficando num “pingue-pongue” de alguns segundos até parar pra poder conversar. Foi muito engraçado e tenho isso na minha mente muito fixado, com sua risada gostosa.

Outra coisa marcante para minha infância, foi de ir à igreja com minha vó e acompanhar a missa ao seu lado no processo de aprendizado da leitura, acompanhando o livreto que entregavam na igreja e que gostava muito de ler. Ela dizia para as outras pessoas toda orgulhosa de seu neto que estava aprendendo a ler e dizendo que era uma “belezinha” ao fazer isso. Até hoje ela diz essa palavra para meus filhos e as todas outras crianças que frequentam sua casa.

Em outros momentos em que eu me senti triste, procurei minha vó até por sentir todo o seu otimismo e fé que ela tem em Deus, dizendo para colocar nas “mãos Dele” que tudo vai ficar bem se pedirmos com firmeza. Toda a sua fé inabalável contagia as pessoas ao redor e faz com que possamos acreditar cada vez mais que as coisas vão sim, dar certo. Sua confiança em nosso senhor Jesus Cristo, é uma coisa muito forte que passa adiante essa vontade de depositar nas mãos do Senhor nossas aflições, que Ele vai resolver todos os nossos problemas rapidinho.

A imagem que nós netos temos de nossos avós são completamente diferentes de nossos pais, que sofreram por estar num período difícil da história com inflação, sem recursos e sem dinheiro, tendo que ajudar em casa para poder crescer e evoluir, nos tempos mais antigos. Nós netos, já tínhamos uma situação um pouco mais confortável do que nossos pais da qual tínhamos nossos avós curtindo os netos, sem ter que fazer o trabalho pesado que era dos pais. Então assim, nossos pais reclamavam de nossos avós, mas nós tínhamos a imagem de pessoas extremamente boas e que faziam tudo que a gente queria. Ao contrario de nossos pais.

Apesar de tudo isso, os avós também erram. Também deixam suas falhas. Algumas brigas com os filhos, desavenças com as noras ou genros, e mais uma série de coisas normais que acontecem em qualquer família.

Independente disso, depois de um tempo de amadurecimento para ambos, tanto os pais, como os filhos, tudo parece se encaixar e se estabilizar trazendo mais paz à família com o fim das brigas e desavenças que geralmente ocorrem em todas as famílias. Algo que muitos membros da minha família prezam para acontecer e que gostam de estarem juntos nas festas, churrascos e eventos familiares.

Não sei se foi coincidência, mas a minha outra vó, também era chamada por um outro nome que não era o seu verdadeiro. A Dona Maria, como era chamada, apesar de não termos tanta afinidade, também desempenhou um papel muito importante de vó ao cuidar de nós quando pequenos, enquanto minha mãe trabalhava. Ambas muito religiosas, depositavam em Deus suas aflições e agiam de uma maneira pura e verdadeira ao orar pelas outras pessoas que necessitavam, principalmente para os mais próximos como os familiares. Coincidência ou não, geralmente as orações funcionavam muito bem, e acaba tudo dando certo, onde ouvíamos um aliviado “Graças a Deus” das duas, quando algo se concretizava positivamente.

Esses foram exemplos espetaculares em minha vida, do qual percebo hoje o quanto foram importantes para o meu crescimento e amadurecimento. Acredito que grande parte de suas orações, foram para nós (filhos, netos e todos os outros demais familiares e amigos próximos), de grande valia, afinal estamos todos muito bem aproveitando a vida que eles se esforçaram para nos proporcionar, ao passar por todas as dificuldades que enfrentaram para chegar até aqui hoje. Ainda que algumas pessoas não tiveram o privilégio de ter tido seus avós presentes, ou até mesmo de se ter os pais presentes, mas que essas pessoas tenham alguém para contar. Pessoas de confiança que mesmo sem ter nenhum grau de parentesco, possam ter o mínimo de carinho e consideração para com nós mesmos. Dai a importância de que sem outras pessoas, não somos ninguém. Temos que contar com as pessoas ao nosso lado sempre, principalmente nos momentos mais difíceis.

Atualmente, somos nós que passamos a fazer muitas coisas para elas, como ajudar nas tarefas mais tecnológicas, ou mesmo com outros afazeres que necessitam de um pouco mais de afinidade, afinal, temos que retribuí-los por tudo que fizeram por nós, ainda que não sejamos totalmente gratos ou que não se equipare nossa ajuda pelo que fizeram por nós, ainda sim, eles estão muito felizes ao nos verem bem.

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